Pesquisa e Desenvolvimento no setor de energia elétrica: Da intervenção à governança
"Não se gerencia o que não se mede, não se mede o que não se define, não se define o que não se entende, e não há sucesso no que não se gerencia."
William Edwards Deming
O setor elétrico brasileiro tem investido em programas de pesquisa e desenvolvimento (P&D) com base na regulação do Programa P&D ANEEL há mais de 20 anos. A regulação deste tipo de atividade surgiu com o propósito de fomentar o desenvolvimento tecnológico, aprimorando processos produtivos, reduzindo custos e aumentando a competitividade do setor.
Ao longo dos anos, o modelo de regulação evoluiu, originalmente trazendo uma intervenção mais direta da ANEEL na decisão sobre aplicação dos recursos, onde o foco era garantir que cada projeto, individualmente, apresentasse atributos específicos de originalidade, aplicabilidade, relevância e viabilidade. Com o tempo, revisões da regulação transferiram para a empresa a responsabilidade pela seleção e priorização, por consequência, o risco (e as oportunidades) de suas decisões e de sua gestão sobre o programa, reduzindo a ingerência da ANEEL sobre a formação dos portfolios.
Um novo centro de gravidade: Da Pesquisa à Inovação
Hoje, na iminência de uma grande mudança na regulação do Programa (saiba mais) que passará a vigorar a partir de Julho, seu maior desafio é dar um passo além e trazer o Programa para uma visão estratégica – agora, o foco é trazer inovação para o setor. Seu objetivo é garantir a continuidade e aplicação das iniciativas, desenvolvendo a maturidade tecnológica, até a geração dos seus benefícios.
Nos moldes do novo PROPDI, a efetividade dos investimentos em P&D deve ser alcançada através da implementação de um modelo de gestão integrado - Estratégia, Portfolio, Programas e Projetos (E3P) - e do monitoramento periódico da implementação e dos resultados alcançados, através de indicadores padrão. Com a nova abordagem, busca-se o alinhamento estratégico do portfólio de programas e projetos para se alcançar a inovação. Em outras palavras, desloca-se o foco nos projetos individualmente para o foco no portfolio estratégico das empresas de energia elétrica.
Uma nova forma de gerenciar: Dos Meios para os Fins
Indicadores serão utilizados para medir a eficácia das carteiras para o atendimento das metas estabelecidas nos planos estratégicos. No final das contas, a pesquisa pela pesquisa dá lugar a um maior compromisso com resultados concretos para a empresa e para a sociedade e com relevância estratégica das ações realizadas.
Na nova regulação do Programa, busca-se aferir o desempenho através de métricas que compreendem a execução, a maturidade tecnológica e os resultados e impactos do programa.
Indicadores de Execução
Os indicadores de execução identificam as entregas e o uso de recursos humanos, financeiros e de infraestrutura.
- Quantidade de Produtos Gerados pelo Programa
- Quantidade de Registros de Propriedade Intelectual
- Produção Técnico-Científica
- Quantidade de Pessoas Capacitadas
- Infraestruturas Laboratoriais Disponibilizadas
- Horas Dedicadas ao Desenvolvimento do Projeto
O objetivo é entender em números como os programas de inovação das empresas tem se desenvolvido, no que tange à produtividade e a utilização de recursos e conhecimento.
Indicadores de Maturidade Tecnológica
Os indicadores intermediários identificam o potencial de inovação relacionado a cada iniciativa, refletindo o funcionamento e a dinâmica do programa rumo a TRLs (Technology Readiness Levels) mais altos.
TRL é a sigla para Technology Readiness Levels, que significa Níveis de Prontidão Tecnológica em português. É um método utilizado para avaliar o nível de desenvolvimento e maturidade de uma tecnologia. Ele é composto por nove níveis, que vão desde a ideia inicial até a tecnologia totalmente operacional e comercializada no mercado.
- TRL 1 – Princípios básicos observados e reportados;
- TRL 2 – Formulação de conceitos tecnológicos e/ou de aplicação;
- TRL 3 – Estabelecimento de função crítica de forma analítica ou experimental e/ou prova de conceito;
- TRL 4 – Validação funcional dos componentes em ambiente de laboratório;
- TRL 5 – Validação das funções críticas dos componentes em ambiente relevante;
- TRL 6 – Demonstração de funções críticas do protótipo em ambiente relevante;
- TRL 7 – Demonstração de protótipo do sistema em ambiente operacional;
- TRL 8 – Sistema qualificado e finalizado;
- TRL 9 – Sistema operando e comprovado em todos os aspectos de submissão operacional.
O TRL é amplamente utilizado em programas de pesquisa e desenvolvimento em todo o mundo para avaliar o progresso da tecnologia e sua prontidão para ser implementada. Ele ajuda a orientar os investimentos e os esforços de pesquisa e desenvolvimento em direção a tecnologias mais maduras e promissoras, com maior potencial de impacto e sucesso no mercado.
Indicadores de Resultados
Os indicadores de resultados identificam os frutos concretos dos esforços de inovação, como produtos e serviços, e sua utilização, na forma de comercialização e licenciamento de novos produtos e softwares.
(R$ Mil) Total Receitas
- Receitas com Licenciamento
- Royalties sobre Propriedade Intelectual
- Receitas Comercialização
- Receitas Participações em Fundos
- Receitas Participações em Startups
- Receitas com Royalties
(R$ Mil) Total Custo Evitado
- Equipamentos e Materiais Imobilizados
- Multas e/ou Penalidades Legais
- Custo Evitado com Internalização Produto
(R$ Mil) Total Redução de Custo
- Capitalização de Mão de Obra Própria
- Equipamentos e Materiais Imobilizados
- Benefício Fiscal com Lei do Bem
- Redução de Custo com Internalização de Produto
Os indicadores de resultado são importantes para evidenciar a economicidade do Programa e sua capacidade de se financiar pelos próprios ganhos e resultados proporcionados pela sua aplicação. Este é um dos maiores desafios para os gestores de Programas com a nova regulação.
Indicadores de Impacto
Os indicadores de impacto identificam os efeitos das atividades de inovação na forma de resultados de longo prazo e longo alcance, como criação de novas empresas, geração de empregos em atividades intensivas em conhecimento e em empresas de rápido crescimento, aumento das exportações de produtos de média e alta tecnologia, impactos socioambientais, alcance dos objetivos estratégicos, entre outros.
- Geração Direta de Empregos
- Qualidade de Fornecimento
- Qualidade de Atendimento ao Cliente
- Aumento Eficiência Energética
- Redução de Emissão
- Créditos de Carbono
- Redução de Resíduos
- Melhoria da Qualidade do Ar, Agua e Solo
Neste ponto, a ANEEL busca evidenciar os aspectos socioambientais de seu Programa, alinhando o setor à agenda ESG. Com isso, a empresa pode demonstrar de uma maneira holística os impactos de longo prazo de sua estratégia de inovação.
Do Pensamento Local para o Global
O desenvolvimento de tecnologias inovadoras no setor elétrico tem potencial para gerar benefícios socioeconômicos, como o desenvolvimento de mercados secundários e ecossistemas, geração de empregos em atividades intensivas em conhecimento e em empresas de rápido crescimento, além do aumento das exportações de produtos de média e alta tecnologia.
Além disso, há ganho potencial na eficiência do setor, traduzindo-se em benefício para o consumidor final. A busca de um plano estruturado de metas para estes objetivos é um passo importante de consolidação de uma agenda estratégica sistêmica para o setor.
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O desafio de inovar em empresas da cadeia de energia elétrica no Brasil envolve muita complexidade: é preciso equilibrar a visão estratégica da organização e as diretrizes regulatórias da ANEEL para programas de PD&I, através de uma abordagem de gestão integral. E é assim que a JExperts pode ajudar sua organização: gestão integrada do Programa de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação, de ponta a ponta.
